Zuz de Prata da Revolta de Bar Kokhba, Ano 3 (134–135 d.C.)

🪙 Lote: 784

Referência: Hendin# 1430; Hendin 5ᵗʰ# 1382

Dados Numismáticos

• Denominação: Zuz (equivalente ao denário romano ou ¼ Sela = ¼ Shekel)
• Período: 3º ano da Revolta de Bar Kokhba (134–135 d.C.)
• Autoridade emissora: Simeon bar Kosevah (líder da revolta)
• Material: Prata
• Peso: 3,34 g
• Diâmetro: 19 mm
• Espessura: 1,5 mm
• Estado de Conservação: Soberba
• Categoria: Judaica, Revolta de Bar Kokhba (132-135 dC)

Descrição Numismática

Anverso: Inscrição "Shimon" em paleo-hebraico. Cacho de uvas com três lóbulos pendurado em galho horizontal, com uma folha à direita e uma gavinha enrolada à esquerda.

Inscrição
שִׁמְעוֹן

Transliteração:
Shim'on

Tradução:
Simeão (referência a Simeon bar Kosevah)

Reverso: Inscrição "Pela Liberdade de Jerusalém" em hebraico moderno. Ramo de palmeira estilizado na vertical.

Inscrição:
לְחֵרוּת יְרוּשָׁלַיִם

Transliteração:
Le-cherut Yerushalayim

Tradução:
Pela Liberdade de Jerusalém

Durante a Revolta de Bar Kokhba, moedas romanas anteriores foram reapropriadas como flans, sendo rebatidas com novos símbolos judaicos e inscrições em hebraico. Esta moeda foi provavelmente cunhada sobre um denário de prata do imperador Vespasiano (possível ver o rosto que se assemelha no reverso), apagando a iconografia imperial e substituindo-a por imagens agrícolas — como o cacho de uvas e o ramo de palmeira — símbolos de fertilidade, esperança e identidade nacional judaica.

Contexto Histórico

A Revolta de Bar Kokhba, também chamada de Segunda Revolta Judaica contra Roma, ocorreu entre os anos 132 e 135 d.C. e foi liderada por Simeon bar Kosevah (Shim'on bar Kosevah) - cujo nome foi posteriormente transformado em "Bar Kokhba", ou "Filho da Estrela", em alusão a uma profecia messiânica - proclamado "Príncipe de Israel". Esta revolta se deu em resposta a uma série de medidas repressivas e provocativas tomadas pelo imperador romano Hadrianus (Adriano), especialmente a transformação de Jerusalém em uma colônia romana chamada Aelia Capitolina, com a construção de um templo pagão dedicado a Júpiter no local onde antes se erguia o Templo de Herodes — destruído durante a Primeira Revolta Judaica (66–70 d.C.).

A insurgência rapidamente ganhou força, e durante cerca de dois anos os rebeldes judeus conseguiram estabelecer uma forma de governo autônomo. Moedas como este Zuz foram recunhadas sobre denários romanos, marcando simbolicamente o rompimento com a autoridade imperial e a restauração de uma identidade judaica independente. Essas moedas eram gravadas com símbolos nacionais como uvas e palmeiras, e com inscrições em paleo-hebraico, aludindo à liberdade de Jerusalém e à liderança de Bar Kokhba, reforçando sua pretensão messiânica.

A resposta romana, no entanto, foi brutal. O general Júlio Severo foi convocado da Britânia por Adriano para suprimir a revolta com eficiência. O conflito foi marcado por combates de guerrilha, cercos e repressão sistemática. Estima-se que centenas de milhares de judeus tenham sido mortos, vendidos como escravos ou expulsos da Judeia. Em 135 d.C., a revolta foi definitivamente esmagada com a queda da fortaleza de Betar, onde Bar Kokhba foi morto.

Após a revolta, Adriano intensificou ainda mais as medidas de punição: proibiu a circuncisão, dispersou os judeus, e substituiu o nome da província de Iudaea por Syria Palaestina, numa tentativa deliberada de apagar a ligação dos judeus com sua terra ancestral. A presença judaica na região foi severamente limitada por séculos.

A Revolta de Bar Kokhba é lembrada não apenas como um marco trágico da resistência judaica à dominação romana, mas também como um momento de afirmação nacional e religiosa. As moedas remanescentes dessa revolta são, assim, testemunhos comoventes de um breve, porém intenso, sonho de liberdade.